Um Filme de JEAN RENOIR
Com Jean Gabin, Simone Simon, Fernand Ledoux, Blanchette Brunoy, Gérard Landry, etc.
FRANÇA / 100 min /
P&B / 4X3 (1.37:1)
Estreia em FRANÇA a 23/12/1938
Estreia em PORTUGAL a 7/11/1939
"La Bête Humaine / A Fera Humana", realizado em 1938, conta a história de um subchefe de estação, Roubaud (Fernand Ledoux), que, depois de ter discutido com um superior, teme ser despedido. Pede então à sua jovem esposa, Séverine (Simone Simon), que intervenha junto do "grande patrão", um vago padrinho que ela conhecera na adolescência e que a mãe conhecera ainda melhor. Quando Séverine regressa, tudo fica resolvido, mas, adivinhando o preço que foi pago, Roubaud fica louco de ciúmes e põe de pé uma maquinação pela qual acaba por matar o padrinho sob o olhar de Séverine, no comboio entre Paris e Le Havre. No comboio. o casal homicida foi visto por Jacques Lantier (Jean Gabin), empregado dos caminhos-de-ferro. No decurso da investigação policial, Roubaud encarrega Séverine de assegurar o silêncio de Lantier e, naturalmente, tornam-se os dois amantes. Pouco a pouco, Lantier vai adivinhando, ou descobrindo, a verdade. Séverine gostaria que Lantier matasse Roubaud, com quem, depois do homicídio, a vida conjugal se tornou impossível. Lantier, decididamente, não consegue matar Roubaud, mas estrangula Séverine durante um atque de loucura e atira-se para o vazio, na manhã seguinte, a partir da locomotiva da qual era o mecânico-chefe.
No romance de Émile Zola, Jacques Lantier estava no campo a ver o comboio passar e avistava, num clarão, o gesto criminoso de Roubaud, assistido pela sua mulher. Foi Jean Renoir quem decidiu colocar Lantier no corredor do comboio, fazendo-o vislumbrar a cúmplice. Esta invenção de Renoir foi adoptada por Fritz Lang quando foi levado a realizar um remake do filme (1854), em Hollywood, com o título "Human Desire / Desejo Humano". Uns anos antes, Fritz Lang havia já calçado as botas de Renoir, ao rodar "Scarlet Street / Almas Perversas", um remake de "La Chienne" (1931). Bem vistas as coisas, parece que Jean Renoir e Fritz Lang tinham em comum o gosto por um mesmo tema: marido velho, mulher jovem e amante. Jean Renoir e Fritz Lang têm também em comum uma predilecção pelas actrizes-gatas, as heroínas de tipo felino. Gloria Grahame é a réplica ianque perfeita de Simone Simon, e Joan Bennett foi uma heroína tanto de Renoir quanto de Lang. E as comparações ficam-se por aqui, porque o autor de "La Bête Humaine" e o de "Human Desire" não procuram a mesma coisa.
Sobre o romance de Zola, Jean Renoir operou o que convencionalmente se designa ascese; recentemente, deu explicações a esse respeito: «O que me ajudou a fazer "La Bête Humaine" foram as explicações dadas pelo herói sobre o seu próprio atavismo; disse para comigo: não será tão belo, mas, se um homem com a beleza de Jean Gabin disser isto num exterior, com muito horizonte em fundo e talvez até com vento, pode ser que ganhe algum valor. Foi a chave que me ajudou a fazer este filme.» É assim que trabalha Jean Renoir, em busca de um equilíbrio constante: um pormenor humorístico compensa um sublinhado trágico; nuvens a correrem nas costas de Gabin contando o seu "mal", locomotivas a passarem atrás da janela do quartinho onde Fernand Ledoux começa a desconfiar da mulher. "La Bête Humaine" é, provavelmente, o melhor filme de Jean Gabin. «Jacques Lantier interessa-me tanto quanto Édipo Rei», disse Renoir deste drama que Claude Givray descreve perfeitamente: «Há o filme triângulo ("Le Carrosse d'Or / A Comédia e a Vida"), o filme círculo ("The River / O Rio Sagrado") e "La Bête Humaine", que é um filme em linha recta, isto é, uma tragédia.» (François Truffaut)
CURIOSIDADES:
- Jean Gabin aprendeu a conduzir locomotivas de propósito para o filme
- "Lison", o nome que Lantier dá à sua locomotiva, é também o nome de uma estação entre Paris Saint Lazare - Cherbourg, bem como um rio na França Oriental
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