sábado, julho 30, 2011

BIO-FILMO: BRUCE LEE

Nascido a 27 de Novembro de 1940, em San Francisco
Falecido a 20 de Julho de 1973, em Hong-Kong
«Empty your mind. Become formless and shapeless like water. 
When water is poured into a cup, it becomes the cup. When water is poured 
into a teapot, it becomes the teapot. Be water, my friend»

Foi em Julho de 1973 que chegou a notícia da morte prematura de Bruce Lee, aos 32 anos. Figura cimeira dos filmes de Kung-Fu, o célebre mestre de artes marciais encontrava-se no auge da glória e as cerimónias fúnebres foram dignas de um imperador. Nessa mesma altura, filmes de karaté como “A Mão de Ferro”, “A Raiva do Tigre” ou “A Fúria de Vencer” (este protagonizado pelo próprio Lee), batiam recordes de receitas na Grã-Bretanha. No entanto, o primeiro filme da malograda vedeta, “The Big Boss”, não conhecia o sucesso em França senão entre os imigrantes e os jovens. Mas um acontecimento viria a mudar tudo. Em Paris, o novo complexo de cinema “Le Hollywood Boulevard”, ao reservar uma das suas três salas ao filme de karaté, iria conduzir só a esta sala cerca de 30 mil espectadores em pleno mês de Agosto. Seguidamente, depois de um lançamento publicitário judicioso, o gerente do “Le Hollywood Boulevard”, René Château, arriscou mudar de filme todas as semanas. Foi um êxito! A voga do karaté estava lançada, tal como na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e na Ásia, donde veio o ribombar do trovão.


“The Big Boss”, produzido pela companhia Golden Harvest, de Raymond Chow, tinha criado o efeito de uma bomba na Ásia, graças à formidável ciência das artes marciais do herói da história, Bruce Lee, e graças também a uma técnica cinematográfica de relevo. Em Hong-Kong o filme bate os recordes de “The Sound of Music" e de “The Ten Commandments”: 1 milhão e 250 mil pessoas deixaram mais de 700 mil dólares nas bilheteiras dos cinemas que o programavam. Em Singapura os espectadores aplaudiram-no como se quisessem deitar a casa abaixo. Mas deitemos um olhar sobre o caminho percorrido por este lendário actor para assim podermos entender melhor o fenómeno.


Nascido em 1940, a 27 de Novembro, em San Francisco, quando da digressão aos EUA duma companhia operática de Cantão, da qual o seu pai, Hoi Shuen Lee, era a vedeta, Bruce Lee, cujo nome verdadeiro era Jun Fan Lee, regressa a Hong-Kong apenas com 1 ano de idade. Em criança e durante a adolescência, desempenha já papéis de “duro” numa vintena de filmes do circuito local. Mas passa o melhor do seu tempo lutando nas ruas como chefe de grupo, e dando-se também ares de sedutor (é sagrado campeão do cha-cha-cha em 1958). A descoberta das artes marciais, do Kung-Fu em particular, muda por completo a sua vida: põe nisso toda a sua energia e vitalidade transbordantes (melhor aluno do mestre chinês Yip-Man), a pontos de chegar a preocupar o progenitor, que receia que o jovem se torne rapidamente num delinquente juvenil.



No ano seguinte, em 1959, e por iniciativa paterna, Bruce Lee regressa aos Estados Unidos, à cidade onde tinha nascido. Trabalha como empregado no restaurante de um familiar, ao mesmo tempo que estuda filosofia. Chega a dar aulas de dança e por fim abre uma escola de Kung-Fu (outras se seguiriam) baseada no seu próprio método. Casa-se em 17 de Agosto de 1964 com a americana Linda Cadwell, da qual viria a ter um filho (Brandon Lee) e uma filha (Shannon Lee). Os seus excepcionais desempenhos no torneio internacional de karaté de Long Beach, em 1964, valeram-lhe ser contratado dois anos depois, por produtores de séries televisivas, para o papel de Kato, o justiceiro mascarado, em “Green Hornet”, folhetim em 30 episódios, onde encarna um jogador de dia e um motorista de noite, veiculando um incorruptível cavaleiro andante que persegue o crime sob todas as suas formas. A série foi um sucesso enorme e Bruce Lee recebeu os elogios unânimes da crítica. Simultaneamente participou, sempre como actor secundário, em outras séries da época: “Batman”, “Ironside”, “Blondie” ou “Longstreet”, bem como no filme “Marlowe”, com James Garner no protagonista.


Enquanto nas suas escolas ensinava às vedetas de Hollywood (James Coburn, Steve McQueen, James Garner, Lee Marvin, entre outros) o seu estilo pessoal de Kung-Fu – o Jet-Kune-Do – não cessava de repetir para si que um dia seria uma estrela internacional mais célebre que os seus prestigiosos alunos. Entretanto, alguns oportunistas quiseram tirar partido do seu sucesso na televisão, abrindo por toda a América centros com o nome de “Kato self-defense”. Lee recusou prostituir a sua arte. Mas os homens de Hollywood não lhe deram nenhuma oportunidade, sustentando que ele não passava de um actor “de cor”. Presas ao seu mundo mesquinho, chauvinista e racista, as pessoas do cinema pensavam  - e diziam-no bem alto - que os fans ocidentais não o aceitariam: era jovem, demasiado baixo e demasiado chinês num mundo de brancos; e esse facto não poderia manter a vedeta na televisão ou no cinema.


É assim que a Warner Brothers renunciou à série “The Warrior”, na qual Lee devia ser a vedeta principal, altera-lhe o título para “Kung-Fu” e confia o papel a um actor branco praticamente desconhecido, David Carradine. Quando se sabe que é graças a esta série que o filho de John Carradine conheceu a celebridade e que não só conhecia mal os rudimentos do karaté como clamava o seu ódio pelas artes marciais e por Bruce Lee em particular, é-se indignado pela ingratidão desenvergonhada de Carradine, pelo racismo estúpido dos produtores, e compreende-se facilmente a cruel desilusão de Bruce Lee.


Recusado pelo mundo dos brancos, por Hollywood, meca do cinema, com o qual apesar de tudo não pára de sonhar, Lee irá encontrar em Hong-Kong a consagração e a glória que lhe tinham sido interditas na América. Raymond Chow, antigo director de estúdio nos “Hair Brothers”, aproveita a presença do actor e propõe-lhe o papel da vedeta num filme. Lee aceitou. Deste encontro capital iria surgir o filme “The Big Boss”, a primeira longa metragem como actor principal. O filme extravasou os limites da Ásia, atraindo multidões no mundo ocidental. Devido ao sucesso fantástico e nada previsível deste primeiro filme, Raymond Chow confia-lhe novamente um papel de justiceiro vingador em “Fist of Fury”, no qual Lee parece ter descarregado toda a sua desilusão, todo o seu ressentimento face à incompreensão e à injustiça de que tinha sido alvo nos Estados Unidos.


Apesar de cinematicamente inferior ao seu precedente, o sucesso foi igualmente  fabuloso. No Extremo-Oriente, “Fist of Fury” pulverizou todos os recordes, mesmo os de “The Big Boss”; em 23 dias alcançou em Hong-Kong uma receita de um milhão de dólares; em Singapura os bilhetes de um dólar foram revendidos por 45 dólares no mercado negro. O filme permaneceu 6 meses em cartaz nas Filipinas, e o sucesso alastrou-se rapidamente à Europa e ao resto do mundo ocidental. Nos EUA foi uma autêntica revolução: mais de 3 milhões de receitas! Desta vez a rede estava lançada e os caçadores de minas de ouro esfregaram as mãos de contentes. Numerosos representantes das grandes companhias chegavam de todos os lados com propostas milionárias de contratos. Percebendo que estava a tornar-se numa grande vedeta internacional, Lee fez esperar toda essa gente, ávida de dinheiro fácil, e fundou com o seu amigo Raymond Chow a sua própria companhia, a “Concord Film”. Logo de seguida rodou como actor, realizador, encenador e produtor “The Way of the Dragon”, que, em todo o lado, atingiu o maior score dos filmes de artes marciais de todos os tempos. Bruce Lee tinha realizado o seu sonho – era uma das maiores estrelas do mundo!


Face a todos estes triunfos a Warner Brothers não teve outro remédio senão encarar a lógica dos cifrões e contratou Bruce Lee para encabeçar uma grande produção de Hollywood. O filme viria a ser o último da carreira do popular actor, “Enter the Dragon”. Em sete semanas o filme rendeu 3 milhões de dólares, só nos EUA, e permaneceu 5 semanas em exclusividade na Inglaterra, antes de ser apresentado no resto da Europa. Pouco antes de concluídas as filmagens, a 10 de Maio de 1973, Bruce sofreu um desmaio no estúdio, tendo sido levado de urgência para o hospital, onde nada lhe foi diagnosticado. Depois de concluir o filme voltou-se de novo para um projecto interrompido, com o título profético de “The Game of Death”, onde contracenava com a actriz chinesa Betty Ting Pei, a sua mais que provável amante da época.


Seria em casa dessa actriz, em Hong-Kong, que foi encontrado morto, no dia 20 de Julho de 1973. Tratou-se de uma morte misteriosa, embora diagnosticada na altura como um edema cerebral. Mas nenhuma das pessoas que assistiram à autópsia quis prestar declarações, o que deu azo a várias especulações na altura. Depois de uma cerimónia fúnebre simbólica em Hong-Kong, a mulher viria a resgatar o corpo e Bruce Lee seria enterrado em Seattle (onde ele e Linda se tinham conhecido e chegado a viver), no cemitério de Lake View (Steve McQueen e James Coburn, entre outros, transportaram o caixão até ao seu local derradeiro).


Bruce Lee desapareceu no momento em que ocupava o primeiro plano da cena internacional. A Metro Goldwyn Mayer queria juntá-lo a Elvis Presley (outro grande aficcionado das artes marciais) num próximo filme. O produtor italiano Carlo Ponti desejava vê-lo a contracenar com a própria mulher, Sophia Loren. A Warner Brothers dispunha-se a dar-lhe cinco dos seus próximos doze filmes e a pagar-lhe 100 mil dólares até à sua realização. Mas a morte de Lee também se revelaria um êxito para os homens de negócios ligados ao cinema, uma vez que o mercado dos filmes de karaté disparou em flecha e as suas influências depressa se fizeram sentir noutros géneros de filmes.


Com a sua luta contra o preconceito, Bruce Lee tornou-se o primeiro actor não americano a fazer sucesso nos EUA e abriu caminho para muitos sucessores, como Jackie Chan, Jet Li, Chuck Norris, Steven Seagal ou Jean-Claude Van Demme. Todos procuraram beneficiar da herança legada, mas nenhum deles conseguiu atingir o carisma do grande mestre. Bruce Lee tornou-se rapidamente um mito, uma lenda, e os seus poucos filmes permanecem ainda hoje como referências básicas do filme de acção. Mesmo para os que, como eu, não são grandes seguidores do género, mas que apreciam sobremaneira todas aquelas sequências baléticas de pura graça animal. Brandon Lee, que procurava seguir as pisadas familiares, morreu de igual modo muito cedo, aos 28 anos, num acidente com uma arma de fogo, durante as filmagens do filme “O Corvo”. Foi sepultado ao lado do pai.


FILMOGRAFIA:

1973 – Enter the Dragon / O Dragão Ataca (+ produção)
1972 – The Way of the Dragon / A Fúria do Dragão (+ produção, realização e argumento)
1972 – Fist of Fury / O Invencível
1971 – The Big Boss / O Implacável
1969 – Marlowe / Detective em Acção




2 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

Nunca assisti nenhum desses filmes de karatê, mas simpatizo com Bruce Lee.


O Falcão Maltês

Enaldo Soares disse...

Eu acho que hoje em dia o mérito dos filmes de Bruce Lee é reconhecível nos filmes chineses a partir de o Ano do Dragão. Assino em baixo este post.