Perguntem a alguém com mais de 35 anos se conhece a canção “Unchained Melody” e provavelmente essa pessoa começará de imediato a trautear a letra: «Oh, my love, my darling / I’ve hungered for your touch / A long, lonely time...». O jovem autor que escreveu tais palavras teve de esperar bastante tempo antes de ver o tema cantado em público. Mas quando isso finalmente aconteceu, “Unchained Melody” foi directa aos topos de vendas em todo o mundo.
Hyman Harry Zaritsky (nascido a 21 de Agosto de 1907, em Nova Iorque), conhecido por Hy Zaret, ainda punha um brilhozinho nos olhos sempre que recordava a razão pela qual tinha escrito a letra da canção - tinha 16 anos e estava perdido de amores pela rapariga mais bonita da vizinhança, Mary Louise, conhecida por Cookie. Mas a timidez impediu-o de confessar os seus sentimentos à eleita do seu coração. Em vez disso escreveu aquelas palavras e foi à sua vida. Muito mais tarde soube que a rapariga tinha casado, o que o fez voltar ao poema para o actualizar. Estava-se em 1936, e Zaret frequentava na altura um curso de Verão na Escola de Artes Teatrais de Triuna, em Yaddo. Aí conheceu Alex North, três anos mais novo (nasceu a 4 de Dezembro de 1910), que lhe compôs a música para “Unchained Melody”. «I pestered him and pestered him to compose a piano copy for me. Finally, he told me that he had music for a song. Basically, I sang the words and he guided me with what he wanted for the music. You might say I sang the song under his guidance», recorda Zaret.
«I asked Alex North if “Unchained Melody” was going to be a hit. Alex said it was going to be a big hit. He wanted me to team up with him to write lyrics, but I took the raving with a grain of salt and thought it was no way to earn a living. I wanted to write that song ‘cause I needed money for college».Outra razão pela qual Zaret não acedeu ao convite de Alex, foi para não enfurecer ainda mais a sua mãe, uma professora de música clássica, que não gostou mesmo nada que o filho tivesse escrito uma canção de contornos populares.
Enquanto os dois amigos trabalhavam na canção, faziam figas para que Bing Crosby, que morava perto deles, viesse a gravar “Unchained Melody” - «I’d spoken to Bing Crosby’s wife so I thought it was a good connection. I styled it for him, you know, his songs had a dip at the end». Como o desejo não se concretizou, Zaret disse a North que gostava que a orquestra de Duke Ellington a interpretasse. Levou algum tempo – dezanove anos – mas este último desejo foi finalmente concretizado quando em 1955, Al Hibbler, que tinha sido vocalista da orquestra, gravou “Unchained Melody”.
A canção aparece pela primeira vez no cinema nesse mesmo ano de 1955, no filme “Unchained”, interpretado por Todd Duncan. Mas foram as versões de Al Hibbler e depois a de Jimmy Young que fizeram de “Unchained Melody” um enorme êxito mundial (#3 nas tabelas da Billboard e #1 nas tabelas inglesas). Nomeada para os Óscares de 1956, foi cantada por Harry Belafonte durante a cerimónia da Academia, mas a vencedora seria “Love Is a Many-Splendored Thing”.
Dez anos depois, em 1965, Os Righteous Brothers gravaram “Unchained Melody” e a nova versão (produzida por Phil Spector) estabeleceu de vez o carácter intemporal e a grandeza da canção. Já em 1990, o filme “Ghost” utilizou-a numa cena inesquecível, em que Demi Moore e Patrick Swayze deram asas à sua sensualidade. Foi quanto bastou para que toda uma nova geração descobrisse pela primeira vez a canção.
Alex North continuou a compor música para filmes, tendo feito uma brilhante carreira no cinema: “A Streetcar Named Desire”, “Viva Zapata”, “Spartacus”, “The Misfits”, “Cleopatra”, “Who’s Afraid of Virginia Woolf?”, “Prizzi’s Honor”, “Good Morning, Vietnam”, são alguns dos títulos das muitas dezenas de filmes que constam no seu currículo, e que lhe valeram um total de 15 nomeações para os Oscars. Estranhamente nunca ganhou, tendo-lhe a Academia atribuido um Oscar honorário em 1986, “in recognition of his brilliant artistry in the creation of memorable music for a host of distinguished motion pictures”. Alex North viria a falecer em Los Angeles, a 8 de Setembro de 1991. Tinha 80 anos.
Zaret recebeu alguns royalties por “Unchained Melody”, mas foram todos gastos numa acção judicial que interpôs à CBS, corporação que só em 1982 foi obrigada a registar a canção. Actualmente os direitos da canção estão na posse de Paul McCartney e da sua editora MPL.
Em 1964 Zaret encontrou de novo Cookie, a sua musa da juventude. Casada pela segunda vez, encontrava-se a viver nessa altura em Fayettedville. Acompanhado pela mulher e dois dos seus filhos, Zaret visitou-a, tendo passado alguns dias em casa dela. Apesar de ter escrito outras canções, “Unchained Melody” permanecerá para sempre a referência maior do seu trabalho como letrista. Zaret viria a falecer em Westport, Connecticut, a 2 de Julho de 2007, apenas 50 dias antes de completar os 100 anos.
Existem actualmente mais de 500 versões de “Unchained Melody”, que ao longo de 55 anos foram sendo gravadas pelos mais diferentes intérpretes, nos mais variados estilos. Em Novembro de 2009 coloquei no meu antigo blogue, o Rato Records, uma colecção de 49 dessas versões em CD duplo, que se tornou rapidamente um dos itens preferidos dos visitantes daquele blogue. Tratando-se de uma canção que o cinema ajudou a popularizar, aqui fica de novo essa coletânea, agora em exclusivo para os amigos do Rato Cinéfilo. Quem ainda não a tem é de aproveitar, pois de certeza que a não encontram à venda por aí.
5 comentários:
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Conheço a canção, mas não sabia de sua história. Belo post.
www.ofalcaomaltes.blogspot.com
Rato, eu positivamente adoro estas tuas compilações de versões de um tema só. Como o "Moon Rivers" e como este "Unchained Melodies". A primeira ideia é que poderá ser fastidioso ouvir-se a mesma canção muitas vezes seguidas. Mas depois de se escutar estas belissimas coletâneas chega-se à conclusão que o processo é tudo menos chato. Direi mesmo que são experiências fabulosas. Como nesta, que eu já tinha tirado do Rato Records e que nos dá interpretações magníficas de "Unchained Melody", sem dúvida uma das mais belas canções jamais escritas.
Parabéns pelo teu bom gosto e profissionalismo!
Magnífico post de homenagem a uma canção imortal. E muito obrigado pela dulpa coletânea - um "must"!
Por vezes a vida nos surpreende, e neste caso fui completamente apanhado de supresa.
Não vou alongar-me ao que já foi dito, mas vou acrescentar BEM HAJA "rato" por este {NÉCTAR}acho que todas as musicas deveriam ter a sua história, finalmente esta tem a sua.
Muito obrigado mais uma vez "RATO"
e por favor continue assim, porque é na simplicidade das coisas que se tornam belas!!
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