Um filme de Fred Cavayé
Com Bérénice Bejo, Stéphane De Groodt, Suzanne Clément, Roschdy Zem, Vincent Elbaz, Doria Tillier, Fleur Fitoussi
FRANÇA-BÉLGICA / 90 m /
COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia em FRANÇA: 5/9/2018
A ideia original para este filme foi concebida por Paolo Genovese, que realizou a versão original italiana em 2016: o filme chamou-se "Perfetti Sconosciuti" ("Perfeitos Desconhecidos"), foi premiado um pouco por todo o lado e estreou-se em Portugal a 4/5/2017 com o título meio idiota de "Amigos Amigos, Telemóveis à Parte". Ao contrário, esta versão francesa nunca se estreou nas salas portuguesas, encontrando-se no entanto disponível na Netflix. A história original já vai em 18 adaptações, em várias línguas e diversos países, incluindo Espanha, Turquia, México, Coreia do Sul, Grécia, China ou Rússia, o que lhe permitiu uma entrada no Guinness Book of World Records.
Nunca vi o original (nem qualquer dos outros filmes), pelo que apenas posso comentar esta versão francesa. E ela é, a todos os níveis, brilhante! Mas vamos ao enredo: Vincent (Stéphane De Groodt) e Marie (Bérénice Bejo) convindam para jantar no seu elegante e espaçoso apartamento de Paris, três casais de amigos (uma amizade já com bastantes anos, sobretudo os homens, que se conhecem desde os tempos do liceu). Os primeiros a chegar são Marco (Roschdy Zem) e Charlotte (Suzanne Clément), logo seguidos por Thomas (Vincent Elbaz) e Léa (Doria Tillier). O anfitrião é também o cozinheiro de serviço, que vai ultimando os seus pratos, mais ou menos inventados, que não irão fazer as delícias gustativas dos convidados, muito pelo contrário. Os três casais esperam impacientes a chegada de Ben (Grégory Gadebois), porque este ficou de trazer a nova namorada, que os restantes ainda não conhecem. Mas Ben acabará por chegar sózinho, alegando que a companheira adoeceu com uma gastrite, ficando assim impedida de comparecer ao jantar.
Na televisão, o locutor de serviço anuncia um eclipse total da Lua para aquela noite: «Atenção: não sejam supersticiosos. Há lendas que dizem que, durante os eclipses lunares, coisas incríveis podem ocorrer. No momento exato em que toda a Lua é encoberta, diz-se que o tempo pára e seus pecados mais profundos serão perdoados. Sua alma é condenada a um limbo pelo resto da eternidade. Mas tudo isso são apenas lendas, é claro.» Para o espectador menos atento convém reter esta comunicação, porque mesmo no final do filme são palavras importantes para se entender melhor o significado da reviravolta que o filme irá ter. É claro que não vou aqui revelar tal desfecho (radical!), para que os espectadores iniciantes possam usufruir do filme em toda a sua plenitude.
Lá pelo meio do jantar, entre críticas mais ou menos veladas à qualidade gastronómica, Marie, a dona da casa, propõe um pequeno jogo de grupo, à semelhança do que faziam quando eram mais novos, um tipo de "Verdade ou Consequência". A ideia é simples: colocarem todos os respectivos telemóveis no centro da mesa e depois responderem, em voz alta, a todos os telefonemas, emails ou mensagens que apareçam. Aqui chegado, apetece-me parafrasear o meu amigo brasileiro Sérgio Vaz, no seu comentário a este filme: «É claro, é óbvio, não há dúvida nenhuma: dá merda. Mas não é pouca, não – é muita merda. É uma quantidade explosiva de merda. Nenhum relacionamento ficará de pé depois daquela exposição de segredos até então muito bem guardados.» À medida que os telefones vão tocando, as máscaras começam a caír, colocando a nu algumas das histórias mais íntimas dos sete convivas. As situações mais embaraçosas sucedem-se e tudo teria ainda um epílogo mais trágico se não fosse aquela reviravolta final.
"Le Jeu" é inteiramente rodado no interior do apartamento (tirando duas ou três sequências nas escadas e no exterior do prédio), mas o seu enorme interesse transcende em muito esse limite cénico. A mise-en-scène é fabulosa, o que só vem realçar a grande qualidade dos actores. Trata-se da quinta longa-metragem de Fred Cavayé, argumentista e realizador francês, nascido em Rennes, em 1967, tendo anteriormente trabalhado como fotógrafo de moda. A sua ainda pequena filmografia (que este filme me deu a enorme vontade de conhecer), resume-se a mais 5 títulos: "Pour Elle" (2008), "À Bout Portant" (2010), "Mea Culpa" (2014), "Radin" (2016) e "Adieu Monsieur Haffmann" (2021), para só citar as longas-metragens.
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