PASSAGEM
PARA A ÍNDIA
Um
filme de DAVID LEAN
Com
Judy Davis, Victor Banerjee, Peggy Ashcroft, James Fox, Alec Guinness, Nigel
Havers, Richard Wilson, Art Malik, etc.
UK-US / 164 m / COR /
16X9 (1.85:1)
Estreia nos EUA: 1984, Dezembro 14 (New
York)
Estreia em Portugal: 1985, Fevereiro 28
(Lisboa)
Estreia na Grã-Bretanha: 1985, Março 18
(London)
Derradeiro filme do
prestigiado director inglês David Lean (1908-1991), que ressurgia de um hiato
de 14 anos (desde que rodara “Ryan’s Daughter”), “A Passage To India”
transporta-nos para o início dos anos 20, altura em que à frente da monarquia
inglesa se encontrava o rei Jorge V, e a Índia era uma colónia do império
britânico, onde se manteria até 1947. Com argumento do próprio David Lean, “A
Passage to India” começou por ser uma novela que o romancista Edward Morgan
Forster (1879-1970) escreveu em 1924, após regressar de uma estadia na Índia,
onde tinha exercido as funções de secretário do Maharajah de Dewas. Mais tarde,
a escritora e jornalista Santha Rama Rau (1923-2009), nascida em Madras, na
Índia, adaptou a novela para o teatro. A peça subiu ao palco do Ambassador
Theatre de Londres, a 31 de Janeiro de 1962, onde se manteve durante 109
sessões.
Adela Quested (Judy
Davis), uma jovem inglesa, viaja para a Índia em companhia de Mrs. Moore (Peggy
Ashcroft), uma senhora de idade um pouco avançada, que se vai encontrar com o
filho, Ronny (Nigel Havers), recém-nomeado juiz, e que se encontra noivo de
Adela. Esta, contudo, está longe de sentir a excitação própria de quem se
prepara para selar o acordo nupcial. Hesitante, aparentemente frígida, começa
no entanto a deixar-se envolver pela mística e sensualidade indianas, onde
existe pouco espaço para a rigidez dos princípios ingleses, nos quais foi
educada. Mas a sua própria sexualidade começa a vir ao de cima e isso causa-lhe um certo receio e incómodo. As duas companheiras de viagem travam conhecimento com um médico, o
Dr. Aziz Ahmed (Victor Banerjee), cujo dia-a-dia oscila entre o servilismo e a
admiração que nutre pelo povo inglês. Organiza uma pequena excursão às
lendárias grutas de Marabar, no decurso da qual Adela sofre um acidente que
posteriormente a leva a acusar Aziz de violação.
Como não podia
deixar de ser, sobretudo num regime fortemente imperialista como foi o
britânico, o caso é levado a tribunal, no sentido dos poderes instituídos condenarem rapidamente
e sem apelo o jovem médico caído em desgraça, de modo a fazer dele um símbolo
da eficácia da justiça britânica. Naquela época vigorava o princípio de
“culpado, até prova em contrário” e portanto as perspectivas de uma absolvição
eram practicamente nulas. No entanto, e para desapontamento das autoridades
inglesas, Adela recupera o bom senso e retira a queixa contra Aziz,
argumentando de que nada se tinha passado da forma como inicialmente dera a
entender. O médico é libertado e levado em ombros como herói nacional. Mas a
sua crença nos ingleses fica seriamente abalada, nomeadamente na relação de
amizade que estabelecera com o professor Richard Fielding (James Fox).
“A Passage To India”
é um filme que aponta o dedo aos excessos coloniais e ao confronto cultural
entre dois povos, que apesar do longo período de convivência (entre 1858 e
1947), nunca chegaram a entender-se. A opressão exercida pelos ingleses (a
nível político, mas não só) tinha na altura pouca oposição por parte dos
indianos, com excepção de uma ou outra réplica verbal, o que de resto é
mostrado no filme através da personagem do jovem advogado Ali (Art Malik), um
mais que provável futuro líder do movimento nacionalista indiano. Quanto a
Aziz, o seu percurso ideológico vai aos poucos evoluindo, desde a recusa de
qualquer tipo de confrontamento até ao levantar do dedo acusatório aos seus
algozes.
“A Passage To
India”, apesar da sua forte conotação política (e no romance original de
Forster essa conotação era muito mais acentuada), é um filme muito belo de se
ver, aliás como toda a obra de David Lean. A australiana Judy Davis está
sublime nos seus 29 anos, sobretudo nos grandes planos que o fotógrafo Ernest
Day conseguiu extrair do seu belo rosto (a “peregrinação” pelo bosque das
estátuas é nesse sentido exemplar), tal como Peggy Ashcroft (Óscar para a
melhor actriz secundária, o que fez dela, aos 77 anos, a actriz mais velha a
receber o prémio), conhecida actriz inglesa, que deambulou décadas pelos palcos
ingleses. Banerjee e Malik são dois dos melhores actores indianos de sempre, e
todo o restante elenco encontra-se em plano bastante elevado, apesar dos
constantes conflitos que a maioria dos actores teve com David Lean. Uma
referência final a Alec Guinness, que compõe aqui uma pequena personagem (o
excêntrico Dr. Godbole), mas que confere ao filme um toque exótico de humor.
Para além de Ashcroft, o filme receberia ainda o Óscar para a melhor partitura
musical (teve no total 11 nomeações), da autoria de Maurice Jarre, um nome
crónico dos filmes dos anos 60.
Do lado crítico
choveram louvores, como que a compensar o ostracismo a que a última obra de
David Lean, “Ryan’s Daughter”, tinha sido votada em 1970. Rogert Ebert, do
Chicago Sun-Times, escreveu: «O romance de Forster é um dos pontos altos da
literatura deste século, e David Lean transformou-o agora numa das melhores
adaptações para o cinema que eu já vi. Lean é um artesão meticuloso, célebre
por não poupar esforços para que cada plano fique excatamente do modo como ele
o imaginou.» A Variety apelidou o filme de «impecavelmente fiel, lindamente
interpretado e ocasionalmente lânguido,» acrescentando que «Lean conseguiu, até
certo ponto, ter sucesso na difícil tarefa de capturar o tom simultaneamente
elegante e irónico de Forster.» Finalmente, a Time Out London descreveu “A
Passage To India” como «um esforço curiosamente modesto, abandonando o estilo
épico vigoroso dos últimos anos de Lean. Embora tenha seguido fielmente a maior
parte do livro, Lean afasta-se do ódio que Edward Forster nutria pela presença
britânica na Índia, e consegue reunir o elenco mais sólido em muitos anos. E
mais uma vez cede ao seu gosto pelos cenários, demonstrando a sua capacidade de
um modo que o cinema britânico nunca pôde igualar em toda a sua história.»
CURIOSIDADES:
- A relação entre
David Lean e Alec Guinness foi-se deteriorando ao longo das filmagens e atingiu
o ponto mais baixo quando Guinness descobriu que a maior parte das cenas por
ele filmadas tinham ficado na mesa de montagem, nomeadamente uma em que o actor
interpretava uma dança indiana, que lhe tinha levado muitas semanas a aprender. Os
dois homens nunca mais se falaram.
- David Lean queria
que Peter O’Toole interpretasse a personagem de Fielding, mas o actor recusou.
Peggy Ashcroft assistiu em Londres à última representação de “A Passage To India”. Nessa altura travou conhecimento com Edward Forster, que lhe disse que um dia ela haveria de interpretar a personagem de Mrs. Moore. Ashcroft respondeu-lhe que seria altamente improvável, dada a diferença de idades entre ela (na altura com 54 anos) e Mrs. Moore.
Peggy Ashcroft assistiu em Londres à última representação de “A Passage To India”. Nessa altura travou conhecimento com Edward Forster, que lhe disse que um dia ela haveria de interpretar a personagem de Mrs. Moore. Ashcroft respondeu-lhe que seria altamente improvável, dada a diferença de idades entre ela (na altura com 54 anos) e Mrs. Moore.
As grutas que no filme se chamam “Marabar” foram criadas
pela produção nas colinas de Savandurga e de Ramadevarabetta. No entanto, a
cerca de 35 km a norte de Gaya, existem umas grutas verdadeiras, chamadas
Barabar.
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