Quando o na altura chamado Drugstore Apolo 70 abriu as suas portas ao público, em Lisboa, vivia-se ainda uma certa euforia da viagem à Lua, motivo pelo qual aquele espaço foi assim designado. Situado na Av. Júlio Dinis, entre as Avenidas 5 de Outubro e da República, a inauguração ocorreu com pompa e circunstância no dia 26 de Maio de 1971, uma quarta-feira. Tal como foi noticiado na imprensa da época, e como era usual, não faltaram as autoridades da praxe, desde o comandante da PSP aos secretários de Estado do Comércio e da Informação e Turismo, além de inúmeros convidados. Com uma área de três mil metros quadrados, distribuída por dois pisos (rés-do-chão e cave), o Drugstore Apolo 70 albergava 41 lojas, um luxuoso restaurante, um salão de jogos, um bowling de 4 pistas, e... uma magnífica sala de cinema - projectada pelo arquitecto Augusto Silva e decorada por Paulo Guilherme - com capacidade para 300 espectadores. Rezava a publicidade que era, imagine-se, o maior Drugstore da Europa!
A primeira sessão de cinema só ocorreu no dia seguinte, com a exibição do filme “Tell Them Willie Boy Is Here / O Vale do Fugitivo”, de Abraham Polonski, um western de contornos políticos interpretado por Robert Redford, Katharine Ross e Robert Blake. No programa de apresentação da nova sala, distribuído gratuitamente ao público (norma corrente na grande maioria das salas de cinema daqueles anos), podia ler-se: «Ao abrir as portas, todo o cinema que se preza orgulha-se de se apresentar ao público referindo normalmente a excelência da sua projecção, a comodidade dos seus lugares, o bom gosto do seu ambiente, o interesse espectacular da sua programação, etc. Apolo 70 poderia começar também por isso (e cremos que o faria com inteira justiça), mas as responsabilidades que irá contrair são sobretudo de um outro tipo. Com o que a sua declaração de princípio pretenderá atingir um alcance muito mais vasto».
Pessoalmente, o meu primeiro contacto com o Apolo 70 ocorreu durante as férias de Verão daquele mesmo ano de 1971. No dia 2 de Agosto, uma segunda-feira, fui à matiné das 16:45 ver o filme “Os Amores de Uma Loura”, do Milos Forman. Ainda conservo esse bilhete, pelo qual paguei a módica quantia de 15 escudos na altura. A partir de então tornei-me um frequentador assíduo daquele espaço, onde tive a oportunidade de ver muito bom cinema. Recordo títulos como “Harold and Maude”, “Mon Oncle”, “The Front Page”, “Catch 22”, “Salmo Vermelho” e tantos, tantos outros. A programação estava a cargo do cineasta e crítico de cinema Lauro António, que, para além da programação normal, nos costumava brindar também com as chamadas sessões especiais da meia-noite. Foi no decurso dessas sessões especiais que descobri grandes filmes da história do cinema. Recordo dois ciclos em especial – um dedicado à Greta Garbo e outro à dupla Fred Astaire / Ginger Rogers – ambos fizeram as minhas delícias.
Apesar do centro comercial ter chegado aos dias de hoje, aquela mítica sala de cinema encerrou em 1990, seguindo o exemplo de tantas outras da capital. Há uns anos atrás voltei a percorrer os corredores daquele espaço da minha juventude. Mas acredito que o aperto que senti no peito nessa altura servirá de travão ao desejo de nova visita ao local. Prefiro quedar-me apenas com a saudade de outros tempos...
3 comentários:
"Ensina-me a Viver" é o primeiro filme que me vem à memória quando recordo o Apolo 70 - julgo que foi exibido durante o Verão de 1973
Confirmo, Billy, foi no Verão de 73 que o filme passou pelo Apolo 70. Vi-o lá por duas vezes, antes e depois de ter ido a Londres nessa altura. Mas já o tinha visto no Estúdio 222, em LM, em Outubro de 72
Lá vi vários filmes desde Fernão Capelo Gaivota a Apocalipse Now
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