Um Filme de CLINT EASTWOOD
Com Clint Eastwood, Meryl Streep, Annie Corley, Victor Slezak, Jim Haynie, Sarah Kathryn Schmitt, etc.
EUA / 135 min / COR /16x9 (1.85:1)
Estreia nos EUA a 2/6/1995
Estreia em Portugal a 29/9/1995
Robert Kincaid: "This kind of certainty comes but once in a lifetime"
"As Pontes de Madison County" é a história de Robert Kincaid, fotógrafo famoso, e de Francesca Johnson, mulher de um agricultor do Iowa. Kincaid, de 52 anos, é fotógrafo da National Geographic - um estranho e quase místico viajante dos desertos asiáticos, dos rios longínquos, das cidades antigas, um homem que se sente em desarmonia com o seu tempo. Francesca, de 45 anos, noiva italiana do pós-guerra, vive nas colinas do Iowa com as memórias ainda vivas dos seus sonhos de juventude. Qualquer deles tem uma vida estável, e no entanto, quando Robert Kincaid atravessa o calor e o pó de um Verão do Michigan e chega à quinta dela em busca de informações, essa estabilidade desaba e as suas vidas entrelaçam-se numa experiência de invulgar e estonteante beleza que os marcará para sempre. Baseado no best-seller de 1993 de Robert James Waller, “As Pontes de Madison County” conseguem, nas mãos classicistas de Clint Eastwood, atingir um apaixonante grau de pureza e simplicidade. Como nos seus melhores filmes (e este é sem dúvida alguma um deles) Eastwood opta por uma direcção sóbria, feita de respirações, de compassos, veículos ideais para a propagação das emoções. Longe de querer ser pretensiosamente dramático, Eastwood soube ser sensível na abordagem que fez do magnífico argumento que tinha entre mãos. O resultado é um filme apaixonante em que questões tão vulgares como oportunidades, perdas ou sacrifícios são elevadas ao nível do sublime.
Conforme escreve Maria João Madeira em "O Contador de Histórias" (um artigo sobre os filmes da autoria de Eastwood), «A intensidade emocional do filme vem da depuração, contenção e realismo com que Eastwood a filma, rigorosa e precisamente como sempre, o que no registo do melodrama mais se impõe e ele cumpre. Os olhares, os gestos e os silêncios alimentam a púdica mise-en-scène (não é um melodrama excessivo de tonalidades sirkianas que se trata). O espectro das convenções sociais ocupa o lugar que elas têm (e a personagem secundária da mulher ostracizada como adúltera que se torna a melhor amiga de Francesca, reforça essa ideia reflectindo, por outro lado, o que lhe podia ter estado reservado).»
(...) «Nesta história é masculino o papel daquele que é deixado sózinho e magoado (como ele lhe diz não é monge nenhum mas nunca sentiu por outra pessoa o que sente com ela), é ele quem perde o lugar. A mais citada das cenas, a mais memorável das cenas de "Madison County", exemplarmente filmada no que tem de suspensão e no que tem de suspense, diz isto mesmo quando o filma à chuva como uma figura encharcada, destroçada, já quase espectral, vindo do outro lado da rua para se especar defronte do carro de Francesca e do marido dela antes de se dirigir ao seu carro e seguir à frente deles. À beira de um cruzamento, o semáforo está vermelho. O vidro retrovisor do carro dele deixa ver o fio que ela lhe ofereceu e ele traz ao pescoço. A luz do semáforo demora uma pequena eternidade, durante a qual Francesca, sentada ao lado do marido, vai apertando a maçaneta da porta em gestos de sufocada hesitação. A luz passa a verde e o carro da frente demora a arrancar. Fá-lo por fim, voltando à esquerda. O carro detrás vira à direita. Lá fora a chuva continua torrencial. (Há quem diga que o mundo se divide entre as pessoas que choram durante a projecção desta cena e as que o não fazem).»
«Embora nunca tenhamos voltado a falar um com o outro, permanecemos tão intimamente ligados quanto é possível a duas pessoas estarem-no. Não consigo encontrar palavras para exprimir isto adequadamente. Ele exprimiu-o melhor quando me disse que tínhamos cessado de ser dois seres distintos e que nos tínhamos tornado num terceiro ser formado por nós dois. Nenhum de nós existia independentemente desse ser. E esse ser foi deixado à deriva»
- Quem pretendia realizar este filme em 1993 era Sydney Pollack, que contava com Robert Redford para o desempenho de Robert Kincaid. Nessa altura, as actrizes pensadas para o papel de Francesca eram, entre outras, Susan Sarandon, Jessica Lange, Barbara Hershey e Angelica Huston.
- A ponte onde Francesca se encontra com Robert (Cedar Bridge) foi destruída durante um incêndio em 3 de Setembro de 2002.
- A casa de campo usada nas filmagens encontrava-se abandonada há mais de 30 anos, tendo sido completamente restaurada durante a produção do filme
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6 comentários:
Nunca vi, curiosamente, mas os nomes envolvidos prometem um produto interessante. Hei-de ver um dia destes.
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema
Muito mais que interessante, caro Roberto. Vá por mim que isto é Eastwood "vintage"
A propósito da iniciativa do Cineroad e da sugestão vim aqui :)
E gostei da crítica, muito sucinta que aborda o essencial em toda a obra.
Já o disse, mas considero este um belíssimo filme que só não me parece um dos melhores de Eastwood por achar que lhe falta algo. Mas de qualquer modo não retira em nada a sua qualidade e o patamar em que se encontra, até porque Eastwood está bem acima, portanto o fraco dele nunca é de desprezar, nem tão pouco comparável a algumas atrocidades que se fazem hoje em dia.
Aqui falamos da perda, do amor, da espera, da estabilidade, da família, do desejo, etc. O cineasta filma, tal como dizes, com tempo e ritmo acertado para nos darmos conta da mensagem, dos olhares, em suma de toda a complexidade interior que existe nos protagonistas. É Eastwood a filmar como sempre filmou, clássico como eu gosto, de uma sensibilidade tocante e muito bem doseada.
Eu sou, confesso, um fã do cinema de Eastwood, sem excepções, e do que vi claro. E quando digo que este não é o seu melhor filme digo-o avaliando a obra em todos os departamentos. Porque se for a dizer assim sem pensar muito digo: é um grande filme, ponto final!
Bom também poderei dizer que só vi este Pontes uma vez, por isso nada como o rever e tirar novas conclusões :)
abraço
Obrigado Jorge, pela tua visita, volta sempre.
Ao longo dos muitos anos que levo desta coisa única e maravilhosa que é o Cinema, sempre tive por hábito rever por diversas vezes os filmes que mais amo. Poderás não acreditar, mas existem títulos que já vi para cima de vinte vezes - e sempre com igual prazer; ou maior ainda, visto aparecerem sempre pequenos pormenores que nos passaram um pouco à margem nas anteriores visões.
Isto para te dizer que estas "Pontes" merecem de certeza muito mais do que uma só visão. E verás como o passar dos anos te trará novas e interessantes perspectivas.
Um abraço
Este filme vê-se, revê-se e torna-se a ver..., sempre com o mesmo grau de prazer, ou seja, elevadissimo. É Eastwood em estado de graça, uma jóia rara na brilhante filmografia do actor-realizador norte-americano.
Obrigado também pelo "acompanhamento musical", Rato - 5 estrelas como sempre.
To love and need to forget is terrible pain
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