Um filme de JAMES MANGOLD
Com Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Dallas Roberts, etc.
EUA / 136 min (153 min) / COR /
16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA: 4/9/2005
EUA / 136 min (153 min) / COR /
16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA: 4/9/2005
(Festival de Telluride)
Estreia em PORTUGAL a 16/2/2006
James Mangold, director nova-iorquino que nunca ultrapassou uma certa mediania (talvez o filme mais interessante que lhe conheço seja o “Identity”, de 2003, uma espécie de terror psicológico com John Cusack e Ray Liotta nos principais papéis), consegue aqui uma feliz adaptação das duas autobiografias em que o filme se baseia: “The Man In Black” e “Cash: An Autobiography”, esta última escrita por Cash em parceria com Patrick Gill. O argumento final teve ainda a colaboração dos verdadeiros Cash e June Carter, na altura ainda vivos (viriam a falecer, com quatro meses de intervalo, antes da produção do filme ter tido início), o que contribuiu decisivamente para o script ser o mais fiel possível à realidade. O grande desafio foi mesmo o de se condensar em pouco mais de duas horas uma vida tão rica, cheia de episódios marcantes. A opção foi portanto acabar a história pouco depois do casamento, em Março de 1968 (June tinha 38 anos e Cash 36). Os dois viriam a viver ainda 35 anos juntos - uma relação que, tanto quanto se sabe, manteve acesa a chama da paixão que os uniu na juventude e que este filme tão bem documenta.
“Walk The Line” (título curioso para quem andou quase sempre “fora da linha”), acompanha a vida de Johnny Cash desde a infância em Arkansas até ao sucesso alcançado por intermédio da lendária editora Sun Records, de Sam Philips, homem responsável pelo lançamento de Elvis Presley e de outros nomes célebres do rock ‘n’ roll: Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Roy Orbsion, que de igual modo aparecem no filme como companheiros das longas digressões e espectáculos ao vivo. Cash começou a escrever as suas primeiras canções aos 12 anos de idade, inspirado nas músicas que ouvia na rádio. Viviam-se tempos de crise - eram os anos da Depressão Americana - e o grande apoio do jovem era o seu irmão mais velho, companheiro inseparável de brincadeiras e cumplicidades. A sua morte, prematura e trágica, teve como consequência o eclodir de traumas que acompanhariam Johnny Cash durante toda a vida. Mais tarde alista-se na Força Aérea e é mobilizado para a Europa (Düsseldorf, na Alemanha), onde vem a comprar a primeira guitarra, que aprende a tocar sozinho.
De volta aos Estados Unidos casa-se com a namorada da adolescência e muda-se para Memphis, onde forma um trio musical. Depois de muitas tentativas conseguem a sonhada audição com Sam Philips e a partir daí Johnny Cash entra na lenda da música country norte-americana. De temperamento difícil, explosivo por vezes, Cash vê-se rapidamente envolvido numa espiral de sentimentos, em que a sua paixão por June Carter, recém-divorciada, irá colocar um ponto final no primeiro casamento, onde as discussões constantes eram o pão nosso de cada dia (pelo menos no pouco tempo em que Cash não andava por fora, em digressão). "Johnny & June" (título com que o filme foi baptizado no Brasil), duas pessoas unidas por uma enorme paixão, que só a morte irá separar (e mesmo assim por escassos quatro meses, o tempo que levou Cash a seguir os passos da sua musa e companheira de toda a vida), mas que não foi isenta de problemas e conflitos, muito por causa do cantor se ter deixado viciar pelo álcool e pelas drogas.
O grande mérito de “Walk the Line” é ter conseguido retratar todo aquele mundo dos inícios do rock ‘n’ roll sem caír na caricatura fácil ou grosseira, a que não será alheia a magnífica interpretação, quer de Joaquin Phoenix quer de Reese Witherspoon, esta última justamente galardoada com variadíssimos prémios, entre os quais o Óscar, o BAFTA e o Globo de Ouro. Refira-se que, estranhamente, este último galardão lhe foi atribuído na categoria de filme “de comédia” ou “musical”, géneros com que, na verdade, “Walk the Line” não se identifica completamente. Ambos os actores aprenderam a tocar (guitarra e harpa), além de, durante 6 meses, terem tido aulas de canto com o produtor T-Bone Burnett. Isto porque Mangold insistiu, desde o início, que fossem os actores a emprestarem as respectivas vozes às canções. Aposta claramente ganha, diga-se, bastando para tal ouvir a excelente banda-sonora do filme. E se a voz de Cash é humanamente impossível de ser imitada (e nem foi essa sequer a intenção de Phoenix), já a prestação de Reese consegue ser mesmo mais melodiosa do que a voz da própria June Carter.
CURIOSIDADES:
Estreia em PORTUGAL a 16/2/2006
It burns, burns, burns…like a ring of fire!
Nunca fui grande apreciador da música country em geral ou de Johnny Cash em particular. Mas este filme teve o condão de me fazer interessar por esse universo musical quando o vi na estreia. Sobretudo pelas canções do man in black, que vim posteriormente a descobrir. Na altura pouco mais conhecia do que alguns títulos emblemáticos, como “The Ring of Fire” ou “I Walk the Line" , que dá o nome ao filme. Cheguei a ter também em vinil o duplo de 1969, "Live at San Quentin" , que na altura da sua saída comprei apenas pelo estranho facto de ter sido o álbum cujo nº total de vendas conseguira ultrapassar, nada menos que o álbum branco dos Beatles – uma autêntica heresia para a juventude daqueles anos. Revi-o agora em Blu-ray (a edição italiana, que, tal como a francesa, tem mais 17 minutos do que a versão original, exibida comercialmente, e além disso vem com inesgotáveis complementos, tudo devidamente legendado na língua portuguesa) e a boa memória que o filme me tinha deixado consolidou-se. “Walk The Line” é de facto um filme muito bom e um dos melhores biopics feitos até à data, a par de “Ray”, de Taylor Hackford, realizado no ano imediatamente anterior, e sobre a vida do imortal Ray Charles.
- Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon tiveram o apoio de Johnny Cash e June Carter para os interpretarem no cinema.
- A cena em que Cash arranca o lavatório da parede não constava no argumento. Foi Joaquin Phoenix que resolveu improvisá-la.
- A última casa de Cash e Carter, em Hendersonville, aparece no filme. Depois da morte deles foi comprada por Barry Gibb, dos Bee Gees, que teve de a reconstruir devido a um incêndio ocorrido em 10 de Abril de 2007.
- O actor que interpreta Waylon Jennings é Shooter Jennings, filho do músico.
- As 56 indumentárias que Phoenix usa durante o filme, foram meticulosamente desenhadas por Arianne Phillips, com base em pesquisas feitas nos arquivos da família e em colecções privadas de fans.
- O filme foi exibido em Folsom Prison, 38 anos depois de Johnny Cash lá ter actuado.
- A proposta de casamento feita em palco aconteceu realmente durante um concerto em Londres, na Ice House (um recinto de hóquei no gelo) de Ontário, em Fevereiro de 1968. Tal como o filme documenta, era "Jackson" o tema que estava a ser interpretado pela dupla.
1 comentário:
um interessante tributo a bela voz de cash
O Falcão Maltês
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