Com Peter O'Toole, Omar Sharif, Tom Courtenay, Donald Pleasence, Joanna Pettet, Philippe Noiret, Charles Gray, Coral Browne, John Gregson, Nigel Stock, Christopher Plummer, etc.
GB - FRANÇA / 148 min /
COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia na GB a 29/1/1967 (Londres)
Estreia nos EUA a 2/2/1967 (Nova Iorque)
Inspector Morand: «But, murder is the occupation of Generals» Major Grau: «Then let us say what is admirable on the large scale is monstrous on the small. Since we must give medals to mass murderers, why not give justice to the small... entrepreneur»
Segunda Guerra Mundial. Varsóvia, 1942; Paris, 1944. No espaço de dois anos duas prostitutas são brutalmente assassinadas e mutiladas nos órgãos genitais, indiciando crimes de índole sexual. Os suspeitos são os mesmos nas duas ocasiões: três generais alemães, comandantes das forças invasoras de Hitler na Europa: Gabler (Charles Gray), um adúltero compulsivo, Kahlenberge (Donald Pleasence), cuja grande preocupação é o derrube do Fuhrer, e Tanz (Peter O’Toole), um militar frio e calculista, considerado um herói na batalha de Estalinegrado. Se no primeiro crime houve apenas uma testemunha inconclusiva (reveladora apenas do facto do assassino ser de facto um general, por causa da risca vermelha das calças do uniforme), já no segundo acompanhamos passo a passo a execução do novo assassínio. Ou seja, a identidade do criminoso é revelada muito antes do final do filme, o que contudo não equivale a um decréscimo de interesse por parte do espectador.
Uma das personagens centrais do filme é o cabo Hartmann (Tom Courtenay, ainda na retina de muitos espectadores por causa do seu excelente desempenho em “Dr. Zhivago”, dois anos antes) que para além de ser a testemunha directa do segundo crime (e que se revelará vital na conclusão da investigação) mantém uma ligação amorosa com a filha de um dos generais suspeitos – Ulrike Gabler, a bonita Joanna Pettet, papel que esteve para ser desempenhado na altura por Marianne Faithfull. Sendo destacado para motorista de Tanz com o intuito de lhe mostrar as vistas de Paris, Hartmann desenvolve uma curiosa relação com o General presenciando a sua face oculta, a insanidade por detrás da aparente normalidade – inesquecíveis as cenas passadas na galeria de arte (o auto-retrato de Van Gogh a funcionar como porta para a loucura), na esplanada, no hotel, no night-club e, finalmente, no local do crime.
Baseado numa novela de Hans Hellmut Kirst (ao que parece inspirada em factos reais), e com argumento assinado por Joseph Kessel e Paul Dehn, “The Night of the Generals” é uma obra bem típica dos anos 60, recheada de belissimos actores entre os quais, e para não destoar do que naquela altura era usual, o excelente Peter O’Toole, que tem aqui mais um dos seus míticos desempenhos. Com duas horas e meia de duração, esta produção franco-inglesa de Sam Spiegel foi bastante popular na altura da estreia por se tratar de um filme carismático que embora situado em cenários do conflito mundial ia um pouco mais além do tradicional filme de guerra. Com uma interventiva banda-sonora assinada por Maurice Jarre (um must daqueles anos) e uma fotografia fortemente apelativa (da autoria de Henri Decae), “The Night of the Generals” oferece ainda uma reconstituição muito credível dos acontecimentos históricos, desde o plot conspirativo para assassinar Adolph Hitler até à ocupação da capital francesa pelo exército nazi.
Outro dos aspectos interessantes do filme é a longevidade da investigação iniciada pelo Major Grau (Omar Sharif, de novo a contracenar com O’Toole, após “Lawrence of Arabia”, cinco anos antes) e depois continuada pelo Inspector Morand (Philippe Noiret), que atravessa os anos da Guerra para se concluir vinte anos depois, já em plena década de sessenta (coincidente, portanto, com o lançamento do filme em 1967). É curioso vermos os mesmos personagens mas agora integrados noutro tipo de realidade. Um novo tempo em que contudo as feridas do passado não foram esquecidas. “The Night of the Generals” é um filme ainda hoje muito agradável de se (re)ver, que paralelamente ao seu interessante enredo transporta em si muita da nostalgia presente nos filmes rodados durante a década de sessenta.
Com Harry
Dean Stanton, Nastassja Kinski, Dean Stockwell, Sam Berry, Bernhard Wicki,
Aurore Clément, etc.
WG-FR-UK-US
/ 145 min / COR /16X9 (1.85:1)
Estreia em
França: 19/5/1984 (Festival de Cannes) Estreia nos EUA:
23/9/1988 Estreia em
Portugal: 25/10/1984
Jane Henderson:«I... I used to make long speeches to you
after you left. I used to talk to you all the time, even though I was alone. I
walked around for months talking to you. Now I don't know what to say. It was
easier when I just imagined you. I even imagined you talking back to me. We'd
have long conversations, the two of us. It was almost like you were there. I
could hear you, I could see you, smell you. I could hear your voice. Sometimes
your voice would wake me up. It would wake me up in the middle of the night,
just like you were in the room with me. Then... it slowly faded. I couldn't
picture you anymore. I tried to talk out loud to you like I used to, but there
was nothing there. I couldn't hear you. Then... I just gave it up. Everything
stopped. You just... disappeared. And now I'm working here. I hear your voice
all the time. Every man has your voice.»
Um homem de boné vermelho, usando um fato escuro às riscas
cheio de pó, caminha como um sonâmbulo pelo deserto texano, sob um sol
abrasador. Vítima de insolação, acaba por ser socorrido numa clínica. Quem é
este homem, que o som fantasmagórico da guitarra de Ry Cooderacompanha na sua
travessia? De onde veio? Para onde vai? Aos poucos, iremos conhecê-lo melhor:
chama-se Travis, perdeu a memória, anda perdido há quatro anos, é ignorante e
estranho no mundo, como uma criança, e encontra-se mergulhado numa depressão
profunda, fruto de uma rotura familiar de contornos trágicos. A mulher, Jane,
encontra-se desaparecida depois de o ter abandonado; e o filho de 7 anos,
Hunter, encontra-se a viver com Walt, irmão de Travis, em Los Angeles. Walt
(Dean Stockwell, falecido em 2021 com 85 anos) é avisado por telefone de o
irmão ter sido encontrado, mas a caminhada deste, obsessiva, só poderá terminar
quando Travis perceber o que lhe aconteceu e tentar juntar todos os pedaços da
sua vida. Será que o irá conseguir?
Com argumento de Sam Shepard (actor falecido em 2017, com 73
anos), "Paris, Texas" tem a assinatura de Wim Wenders (nascido em
1945), o realizador alemão que nos habituou, nos seus filmes, a temáticas
errantes. Influenciado pela cultura europeia e pelo cinema clássico de
Hollywood, criou "Paris, Texas" à sua própria imagem: um viajante sem
bagagens à conquista de um obscuro e intocável Graal, sem qualquer desejo ou
possibilidade em integrar-se socialmente. "Paris, Texas" é uma
espécie de western imóvel, sem diligências, sem xerife, sem índios, uma viagem
ao fim do deserto tendo como cicerone um Ulisses taciturno e mudo. Retêm-se
imagens de extensões áridas, de motéis e estradas sem fim, com um objectivo
último e aleatório: a busca de uma unidade destruída.
Wenders: «Tinha, de início, a concepção de que o filme se
deveria desenrolar um pouco por todos os Estados Unidos: da fronteira mexicana
até ao Alasca. Sam Shephard, pelo contrário, era de opinião de que nos
deveríamos limitar ao Texas; o Texas era a América em formato pequeno. Viajei
então aos zigue-zagues pelo Texas, fui a toda a parte, a todos os cantos. No
fim, acabei por aceitar a ideia dele. Eu tinha lido a "Odisseia" pela
primeira vez em Salzburgo. Este mito já não podia, na minha concepção, tomar
forma nas paisagens europeias, mas sim, decerto, no Oeste americano. A cidade de Paris, Texas - no Norte, na margem do Rio
Vermelho, perto da fronteira com Oklahoma - impôs-se-nos por causa do nome.
Esta colisão de Paris e Texas - estes locais corporizam, para mim, a essência
da Europa e da América - cristalizou, de um só golpe, muitos elementos do
argumento: o nome da cidade, Paris, Texas simboliza a cisão, o desequilíbrio de
Travis. O seu pai encontrou ali a sua mãe, ele foi ali concebido. Mãe e filho
sofreram com a piada favorita do pai («Conheci a minha mulher em Paris») e com
o seu desaparecimento. Paris, Texas tornou-se lugar de separação. É para Travis
um lugar mítico, onde ele tem que reunir de novo a sua família dispersa.»
Se Harry Dean Stanton (falecido em 2017 com 91 anos) tem aqui
o papel de uma vida, o que dizer da fascinante Nastassja Kinski? Ela só aparece
na terceira e última parte do filme (aos 56 minutos de filme), que é bem longo,
e practicamente a sua representação circunscreve-se a um quarto. Mas o
caleidoscópio de emoções com que ela nos presenteia é algo sublime e raramente
visto numa tela de cinema. Nem que seja por essa longa sequência em que os dois
actores têm sempre um vidro a separá-los (comunicando-se por telefone),
"Paris, Texas" ficará para sempre num lugar muito especial das minhas
memórias cinéfilas. Wim Wenders ganharia com este filme a Palma de Ouro do
Festival de Cannes e o BAFTA inglês.
ALGUMAS CURIOSIDADES:
- Filme
favorito de Harry Dean Stanton de entre todos em que participou, apesar das
suas primeiras falas serem ditas apenas aos 26 minutos do filme. Também Kurt
Cobain e Akira Kurosawa afirmaram que “Paris, Texas” era o seu filme preferido.
- Ainda em
fase de pré-produção o filme começou por chamar-se “Motel Chronicles”, uma espécie de crónicas, que tanto Wenders como Shephard consideraram infilmável, por não possuir um fio condutor, uma história. Resolveram então partir do zero, de um quarto de página desse argumento, onde um homem se desfaz de todos os seus pertences e se entranha pelo deserto dentro.
As duas longas sequências finais no peep-show foram filmadas ininterruptamente, após Harry Dean Stanton ter sido ajudado por Nastassja Kinski a decorar dez páginas de diálogo.
Em 2024 saíu a edição comemorativa do 40º aniversário: