Com Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, etc. EUA / 136 min / COR / 16X9 (1.85:1) Estreia nos EUA a 12/6/1968 Estreia em MOÇAMBIQUE (L.M.) a 12/10/1969 (teatro Manuel Rodrigues)
Rosemary: «What have you done to him?
What have you done to his eyes, you maniacs!"
Roman:"He has his father's eyes»
Em tempo de estreia do novissimo Polanski (“The Ghost Writer” / “O Escritor Fantasma”) sabe bem regressar aos tempos áureos do realizador polaco, em que ele se encontrava no auge de uma clara felicidade na sua vida pessoal. O que não o impediu de arquitectar uma das obras mais inquietantes da sua filmografia. Tudo começa (intencionalmente) num tom cor-de-rosa de novela, em que nos são introduzidos os protagonistas do filme, um jovem casal (Guy e Rosemary Woodhouse) que, como tantos outros nessa mesma situação, procuram um apartamento para poderem iniciar o caminho a dois. Guy (John Cassavetes) é um ambicioso actor, Rosemary (Mia Farrow) uma devota católica desejosa de se tornar mãe. Instalam-se em Manhattan, no edifício Dakota (que muitos anos depois se tornaria célebre pelo assassinato de John Lennon).
A calma idílica do casal continua a ser-nos mostrada pela câmara cínica de Polanski que assim vai acentuando o contraste para tudo quanto mais tarde nos irá confirmar os pressentimentos mais terríveis. E esta transição, lenta e quase imperceptível, é a “chave” que faz com que a história de “Rosemary’s Baby” funcione e o desenrolar do filme vá aumentado a angústia do espectador. Sómente através de pequenos e subtis passos é que Rosemary (e nós, através dela) começa a suspeitar que algo está errado à sua volta. São os vizinhos, os Castevet, que por detrás da sua aparente amabilidade vão denunciando uma impertinência crescente. É a morte de uma inquilina e mais tarde de um amigo do casal em condições misteriosas. É a cegueira súbita sofrida por um colega de Guy que permite a este alcançar um papel há muito desejado. São os seus próprios pesadelos que se lhe apresentam cada vez mais reais. É a afamada reputação do local, onde se teria em tempos praticado magia negra.
Mas Rosemary vai afastando todos os maus presságios, tal o desejo de ser mãe pela primeira vez; e finalmente recebe a boa nova – vai ter um filho. No entanto a espiral de acontecimentos estranhos continuam, e Rosemary vai descobrindo que a “teoria da conspiração” não pertence afinal ao seu imaginário, sendo pelo contrário bem real. Acaba por fim de dar à luz mas dizem-lhe que houve complicações e o bébé morreu, não lhe permitindo sequer vê-lo. Mantêm-na sob o efeito de tranquilizantes mas Rosemary sabe que estão todos a mentir, até porque ela consegue ouvir um choro infantil através das paredes. Finalmente consegue reunir as forças necessárias e descobrir a passagem secreta para o local onde se encontra o seu bébé. Depois é o horror da descoberta (-“o que fizeram aos seus olhos?” - “tem os olhos do pai”, respondem-lhe) e progressivamente a aceitação da inevitabilidade de se ter tornado mãe, nem que seja a mãe do filho de Satanás.
O grande achado do final desta ghost story é de nunca o bebé nos ser mostrado. Presume-se a sua monstruosidade, mas deixa-se o close-up à imaginação do espectador. Técnica de sugestão clássica, aplicada aqui por um virtuoso, e com bons resultados, visto muito gente ter falado no aspecto terrível do bébé. Existe apenas uma breve imagem dos olhos mas essa imagem pertence ao pesadelo que Rosemary teve antes de engravidar. Este drama psicológico, de um horror subtil mas terrivelmente eficaz, é servido por um excelente grupo de actores onde naturalmente se destaca Mia Farrow que tem aqui o papel de uma carreira.
“Pessoalmente não acredito nas sociedades secretas - declarou Polanski na altura - o que me interessa é dar aparências passíveis de se poder acreditar nelas”. Não seria isto brincar com o fogo? Um ano depois, a sua própria mulher, a actriz Sharon Tate, com quem se casaria após a rodagem do filme, era vítima de uma seita satânica liderada por Charles Manson. A realidade tinha largamente ultrapassado em horror a ficção.
"Rosemary’s Baby" foi um enorme êxito logo na estreia, com filas de bilheteira que se estendiam por quarteirões inteiros. Êxito que se prolongou no ano seguinte devido aos trágicos acontecimentos em que Polanski se viu envolvido. Hoje, à distância de mais de meio século, tem-se a noção clara de que “Rosemary’s Baby” foi um filme à frente do seu tempo já que anunciou a psicose de feitiçaria que iria submergir a América nos anos seguintes, além de se ter tornado a primeira referência para filmes do género. E Polanski só dez anos depois nos conseguiria dar outro filme tão ou mais inquietante do que este – “Le Locataire” / “O Inquilino”.
CURIOSIDADES:
- O edifíco Dakota foi rebaptizado de "The Bramford" para o filme.
- Foi durante a rodagem que Mia Farrow recebeu os papéis de divórcio enviados por Frank Sinatra, com quem se casara apenas dois anos antes.
- É a própria Mia Farrow que entoa a canção de embalar ouvida no início e no fim do filme.
- Antes de Mia Farrow uma grande quantidade de actrizes famosas chegou a ser equacionada para o papel de Rosemary: Tuesday Weld, Jane Fonda, Julie Christie, Elizabeth Hatman, até em Sharon Tate, a sua futura mulher, Polanski chegou a pensar. O mesmo se passou com a escolha do papel de Guy: Robert Redford, Richard Chamberlain, Jack Nicholson, James Fox.
- Quando Mia Farrow fala ao telefone com o colega de Guy é a voz de Tony Curtis que se ouve do outro lado.
OS CAVALOS TAMBÉM SE ABATEM Um filme de SYDNEY POLLACK Com Jane Fonda, Michael Sarrazin, Susannah York, Gig Young, Red Buttons, Bonnie Bedelia, Michael Conrad, Bruce Dern, Al Lewis, Robert Fields, Allyn Ann McLerie, etc. EUA / 129 min / COR / 16X9 (2.35:1) Estreia nos EUA (Nova Iorque) a 10/12/1969 Estreia em Moçambique (L.M.) a 26/11/1971 (cinema Infante)
Rocky:«Yowza! Yowza! Yowza!»
Nos tempos obscuros da Grande Depressão, uma nova moda
nacional nasceu na América – as maratonas de dança. De duração ilimitada, o
objectivo último era a atribuição de prémios aos mais resistentes - valores
irrisórios quando comparados com os ganhos publicitários obtidos pelos
promotores de tais “espectáculos”. Esta primeira grande obra de Sydney Pollack
pega numa dessas maratonas para denunciar o “american dream of life” e
devolver-nos o clima de tragédia que constituía a sobrevivência durante a crise
económica dos anos 30 nos EUA. Estamos num pavilhão localizado numa qualquer
praia californiana, no interior do qual uma imensa pista de dança vai servir de
palco às esperanças ilusórias de uma centena de pares que se preparam para
resisistir estoicamente a longas semanas de sacrifício, físico e psicológico,
no intuito de alcançarem os 1500 dólares anunciados pela organização.
O filme irá acompanhar em especial quatro desses pares:
Gloria (Jane Fonda), uma jovem cínica e amarga, vinda de várias experiências
infelizes, que à última hora tem de substituir o seu par (desclassificado por
indícios de doença) por Robert (Michael Sarrazin), um jovem desconhecido que se
encontrava no local por acaso e simples curiosidade; Alice (Suzannah York), uma
inglesa aspirante a actriz cujo maior desejo é vencer em Hollywood e o seu
companheiro Joel (Robert Fields) que partilha das mesmas aspirações; Sailor
(Red Buttons), um veterano da Grande Guerra com a sua parceira Shirl (Allyn Ann
McLerie); e um casal recém-casado de parcos recursos e à espera do primeiro
filho – Ruby (Bonnie Bedelia) e James (Bruce Dern). A presidir à maratona está
Rocky (Gig Young), um mestre de cerimónias sem escrúpulos que não hesita em
usar todos os meios ao seu alcance para que o espectáculo desperte o interesse
de um público voraz, à procura de desgraças superiores às suas, para assim se
sentir confortado na sua miserabilidade.
Fazendo parte de uma vaga de jovens directores que se iniciaram na
televisão em princípios dos anos 60, Sydney Pollack insere-se numa classe
particular de cineastas cujo estilo se situa a meio-caminho entre o classicismo
reinante nos grandes estúdios e um novo realismo que por vezes faz lembrar o
documentário. À semelhança de um Frankenheimer ou de um Coppola, Pollack foi um
dos responsáveis pela abertura de vias a toda uma geração de novos realizadores
que se viriam a afirmar no decorrer das décadas de 70 e 80: Spielberg, Lucas,
Scorsese ou De Palma, por exemplo. Tendo começado a sua carreira no grande
écran por um thriller psicológico com Sidney Poitier e Anne Bancroft (“The
Slender Thread”) em 1965, é com o filme seguinte, “This Property Is Condemned”
(1966), um argumento assinado por Coppola e baseado numa peça de Tennessee
Wiliams, que Pollack se revela como um cineasta bastante promissor. Foi também
o início de uma grande amizade com Robert Redford, actor que participaria em
mais sete dos seus filmes.
O período da Grande Depressão foi tratado de variadissimas formas no
cinema, mas sempre se destacou (Chaplin à parte) o chamado filme de
gangsters. Desde “Little Caesar”, em 1930, até “Bonnie & Clyde”, em
1967, os exemplos são ricos e variados. Com “They Shoot Horses, Don’t They?”,
Pollack aborda esses anos como um autêntico retrato da sociedade da altura.
Baseado num livro de um escritor norte-americano injustamente menosprezado,
Horace McCoy, o argumento, brilhante (assinado por James Poe e Robert E.
Thompson), centraliza quase toda a acção num único décor (a pista de dança),
sem que isso belisque minimamente o interesse do espectador.
Pelo contrário, a emoção está sempre presente, fruto de uma montagem
precisa e minuciosa (assinada por Fredric Steinkamp, que a partir deste filme
colaboraria muitas vezes com Pollack), nomeadamente nas diversas sequências do
“derby”, onde atinge um raro virtuosismo ao conseguir integrar o espectador na
dor e angústia daquela louca procissão de desesperados. De salientar ainda a
utilização inteligente de flashbacks e flashforwards na construção narrativa e
que ao longo do filme vão anunciando a sua conclusão trágica, onde finalmente a
expressão que dá título ao filme se revela em toda a sua crueza – «They shoot
horses, don’t they?»
Pollack revela aqui aquela que seria uma das suas imagens de marca – a
brilhante direcção de actores. Susannah York (nomeada para o Globo de Ouro e
Oscar de Actriz Secundária e vencedora do BAFTA inglês para a mesma categoria),
Red Buttons (nomeado para o Globo de Ouro de Actor Secundário), Michael
Sarrazin (nomeado para o BAFTA da revelação mais promissora), Bruce Dern ou
Bonnie Bedelia, constroem todos eles grandes personagens que irão ficar para
sempre nas nossas memórias. Mas o par de cerejas em cima do bolo são efectivamente
Gig Young e Jane Fonda. Young arrebataria quer o Oscar quer o Globo de Ouro
para o melhor Actor Secundário, tendo ainda sido nomeado para o correspondente
BAFTA.
Jane Fonda liberta-se, com este filme, da sua imagem de boneca sexual
(reforçada pelo sucesso de “Barbarella” no ano imediatamente anterior)
provando, sem margens para dúvidas, que estava ali uma digna sucessora do
pai Henry. Teve três nomeações para Melhor Actriz Principal, uma para os
Oscars, outra para os Globos de Ouros e ainda uma terceira para o BAFTA.
Perderia para Maggie Smith nos primeiros (alguém se lembra do filme “The Prime
of Miss Jean Brodie” ???) e para Geneviève Bujold (“Anne of The Thousand Days”)
nos segundos. Quanto ao prémio inglês, o mesmo seria ganho por Katharine Ross
(“Butch Cassidy & The Sundance Kid” e “Tell Them Willie Boy Is Here”).
Jane Fonda seria no entanto distinguida pelas Associações de críticos de Nova
Iorque e Kansas City como a Melhor Actriz de 1969.
CURIOSIDADES:
- Foi o próprio Sydney Pollack quem se encarregou de filmar alguns dos planos constantes nas corridas dos concorrentes. Para isso calçou um par de patins e misturou-se entre os pares que evoluiam à volta da pista.
- “They Shoot Horses, Don’t They?”teve 9 nomeações para os Oscars sem conter contudo a categoria de Melhor Filme: Realizador, Argumento-Adaptado, Montagem, Música, Guarda-Roupa, Direcção Artística e Cenários, Actriz Principal (Jane Fonda), Actriz Secundária (Susannah York) e Actor Secundário (Gig Young). Como acima já se disse, este foi o único Oscar conquistado pelo filme.
- A banda sonora está recheada de canções dos anos 30, incluindo algumas escritas propositadamente para o filme por John Green, conferindo assim uma atmosfera de autenticidade. Os temas incluem "Easy Come, Easy Go," "I Cover the Waterfront," "Out of Nowhere" (Edward Heyman, Green), "Coquette" (Gus Kahn, Carmen Lombardo, Green), "Sweet Sue Just You" (Will J. Harris, Victor Young), "I'm Yours" (E.Y. Harburg), "Brother, Can You Spare a Dime" (Harburg, Jay Gorney), "Paradise" (Gordon Clifford, Nacio Herb Brown), "The Japanese Sandman" (Raymond B. Egan, Richard A. Whiting), "Between the Devil and the Deep Blue Sea" (Ted Koehler, Harold Arlen), "The Best Things in Life Are Free" (B.G. De Sylva, Lew Brown, Ray Henderon), "California, Here I Come" (Al Jolsen, De Sylva, Joseph Meyer), "Body and Soul" (Heyman, Robert Sour, Frank Eyton, Green), "I Found a Million Dollar Baby" (Billy Rose, Mort Dixon, Harry Warren), and "By the Beautiful Sea”.
Com Gene Wilder, Peter Boyle, Marty Feldman, Madeline Kahn, Teri Garr, Cloris Leachman, Kenneth Mars, etc.
EUA / 106 min / PB /
16X9 (1.85:1)
Estreia nos EUA a 15/12/1974 Estreia em PORTUGAL (Lisboa) a 26/6/1975 (cinema Condes)
Dr. Frederick Frankenstein:«I am not a Frankenstein. I'm a Fronkonsteen»
O tratamento renovado de um tema tão solidamente implantado no cinema como é o de Frankenstein é tarefa onde já falharam imensos realizadores. Mais ou menos fiéis ao romance de Mary Shelley, grande parte dessas tentativas de reinvenção do mito ao longo dos anos têm-se perdido num falso terror de pacotilha, num desrespeito total pelo espírito que presidiu à criação do personagem. Por isso foi com algum cepticismo que me desloquei ao cinema Condes, em Lisboa, naquela segunda-feira, dia 30 de Junho de 1975, para assistir a este filme. Ainda por cima tratava-se de uma comédia, e assinada por alguém que me era completamente desconhecido. É que apesar de ser já a sua quarta longa-metragem,“Young Frankenstein” foi o primeiro filme de Mel Brooks a ser exibido em solo lusitano. Era por isso uma estreia absoluta.
A surpresa revelou-se total e... deliciosa! Posso mesmo dizer que foi das vezes em que uma ideia pré-concebida se viu completamente estilhaçada por aquela autêntica revelação - um humor corrosivo e delirante que conseguia dar uma volta de 180 graus ao romance original sem nunca o agredir. Pelo contrário,Mel Brooks serve-se dele como veículo de reconstrução e homenagem aos filmes de James Whale dos anos 30, conseguindo algo que iria perdurar para sempre na história do cinema. Essencialmente, Brooks pegou em dois clássicos eternos dos filmes de terror (“Frankenstein” de 1931 e “The Bride of Frankenstein” de 1935) e fez com eles um outro clássico absoluto, agora nos domínios da comédia. A par de “Blazing Saddles” (curiosamente do mesmo ano e também uma homenagem satírica, desta vez ao western),“Young Frankenstein” permanece como a obra máxima deBrooks, mais de cinco décadas depois.
A história começou a ser escrita por Gene Wilder, muito antes de Mel Brooks entrar em cena e partilhar com ele a autoria do argumento. Anunciado como “The scariest comedy of all time!”, o filme fala-nos do regresso do neto do barão de Frankenstein, Frederick (Gene Wilder) à terra natal dos seus antepassados para tomar posse do legado que lhe foi deixado pelo avô. Neuro-cirurgião famoso, professor de medicina numa universidade americana, Frederick (que prefere que o tratem por Fronkonsteen devido aos embaraçosos antecedentes familiares), despede-se da sua noiva, Elizabeth (Madeline Kahn) antes de embarcar no comboio que o levará até à Transylvania.
Para além do castelo o testamento contempla também Igor (Marty Feldman, numa actuação histórica, que se confunde com o próprio filme), neto do criado do barão, e que arranja uma assistente, chamada Inga (Teri Garr), para o seu novo amo. Quando chegam ao castelo são recebidos por uma governanta, Frau Blücker(Cloris Leachman), antiga amante do barão de Frankenstein. A breve trecho Frederick descobrirá o gabinete de trabalho do seu avô, bem como o diário onde o barão registou todas as suas experiências médicas. A tentação de criar vida a partir da morte está nos genes da família e rapidamente Frederick deita mãos ao trabalho visando a criação de um novo ser. Mas uma acidental troca de cérebros irá desencadear resultados catastróficos, só que, desta vez ...hilariantes!
Gags visuais (como a bossa deslizante deIgor) e sonoros (o relinchar dos cavalos sempre que o nome Blücker é pronunciado), diálogos brilhantes e irreverentes, uma fotografia fabulosamente iluminada a preto e branco, actores dirigidos com mão de mestre e que se sentem como peixes na água, tudo se conjuga harmoniosamente, para conferir a “Young Frankenstein” uma saudável alegria, um piscar de olhos aos cinéfilos da plateia. Algumas das situações são verdadeiros achados, como o encontro do monstro (Peter Boyle) com o eremita cego (um bem disfarçado Gene Hackman), a apresentação ao público em toada de music-hall (“Puttin’ On the Ritz”, de Irving Berlin) ou quando Elizabeth, a puritana noiva de Frederick entretanto chegada ao castelo, se deixa possuír pela criatura, por entre gorgeios voluptuosos de ópera («Oh, sweet mystery of life at last I've found you! At last, I know the secret of it all!»).
Se, classicamente, o monstro é imolado pelo fogo e destruído, neste filme o final é totalmente diferente. Para remediar o mal feito, Frederick troca o seu brilhante cérebro com o da criatura, a qual acaba por desposar Elizabeth. Vêmo-la bamboleando-se ao jeito das vamps do cinema americano (e com um arranjo capilar a evocar a “Noiva de Frankenstein”) a caminho do leito nupcial, onde a espera o antigo monstro, agora convertido num exemplar burguês. Quanto a Frederick, acaba por ficar no castelo e no leito de Inga, a qual, num derradeiro e divertido gag, acaba por descobrir que afinal o professor ganhou algo bem mais valioso (pelo menos para ela) na troca de cérebros efectuada.
Resta acrescentar o rigor com que os cenários são concebidos, no mais perfeito estilo do cinema de terror, do castelo de portas com batentes gigantescos aos corredores com teias de aranhas, e às próprias ruas da cidade com uma atmosfera capaz de acordar em nós reminiscências do expressionismo alemão dos anos 20. Cinema de puro divertimento, mas que consegue fazer a revisão cuidadosa da matéria dada: um mito fundamental do cinema de terror, que vem das nossas raízes cinéfilas, e que povoará para sempre as nossas memórias.
CURIOSIDADES:
- O cenário do laboratório do castelo é o mesmo onde foi rodado o original “Frankenstein”.
- Na sequência de abertura, em que a câmara vai lentamente descobrir o túmulo do barão de Frankenstein, o relógio existente na cripta assinala a meia-noite mas ouvem-se 13 badaladas em vez das esperadas doze.
- No final do encontro do monstro com o eremita cego, este vem à porta gritar-lhe «Iwas gonna make espress». Tal réplica foi improvisada por Gene Hackman, cujo nome não apareceu nos créditos finais quando o filme foi exibido pela primeira vez. Consta que muita gente não reconheceu o conhecido actor.
- Durante as filmagens era frequente os actores desmancharem-se a rir, o que originou muitos takes extras de várias cenas. Esses momentos podem ser vistos no documentário que acompanha a edição do filme em DVD e Blu-Ray.
- Em 2006 a revista Premiere incluiu “Young Frankenstein” na lista das melhores 50 comédias de todos os tempos.
- Os elementos da banda Aerosmith foram assistir ao filme numa pausa das gravações de um novo album. Steven Tyler escreveu na manhã seguinte o tema “Walk This Way”, inspirado pelo gag de Marty Feldman ao descer a escada da estação de comboio juntamente com Gene Wilder.
- “Young Frankenstein” foi nomeado para 2 Óscares (Som e Argumento-adaptado) e para 2 Globos de Ouro (Filme Musical ou Comédia e Actriz Secundária – Madeline Kahn).
- A versão musical de “Young Frankenstein” estreou-se na Broadway, no Hilton Theater de Nova Iorque, a 8 de Novembro de 2007, tendo estado mais de um ano em cena.
- Todos os actores do filme já faleceram. O realizador Mel Brooks é o único que ainda se encontra vivo: completou 99 anos no passado dia 28 de Junho.